15 de julho de 2018

Pipico Quase Salva

A torcida ainda está incrédula, tanto que se esperava a "descida" do morro em direção ao Arruda, time buscando a terceira vitória seguida (duas já fora algo inédito), Pipico sendo aquele homem gol que estávamos esperando, mas ainda não foi desta vez que o morro "desceu", voltamos a fazer aquela velha pergunta: Será que dá? Respondo: Sim, mas não pelo futebol de ontem.

Tivemos alguns revés que não estavam no planejamento, principalmente em casa, mas é inegável a mudança que Roberto Fernandes fez, mudamos de candidato ao descenso (ao menos era esse o sentimento da torcida), para nos firmar a cada rodada no G4, a chegada de alguns jogadores nos deram mais poder de finalização, principalmente a finalização de cabeça e nesse quesito Pipico tem sido o novo Rei da área tricolor para delírio da torcida.

Voltando ao jogo de ontem, alguns podem achar que não, mas o resultado foi justo, o Santa não fez por merecer a vitória, mesmo tendo reconhecido que foi um castigo o gol deles no apagar das luzes, sempre fico p...da vida com esse tipo de gol, mas é futebol, e como se fala, só termina quando o arbitro apita. O Santa não demonstrou o futebol dos dois últimos jogos, mais aplicado, principalmente do jogo contra o ABC, um parênteses, por isso acredito em nova vitória em João Pessoa, toque de bola rápido, chutes a gol, um time objetivo, sem a necessidade se ficar "cozinhando" o jogo, mas ontem o Santa voltou ao velho jogo de joga nas laterais e cruza na área, não procurava uma troca de bola no meio campo. Robinho tem mostrado a cada jogo sua evolução, mas continua com velhos defeitos que prejudicam muito os ataques, dribles excessivos numa mesma jogada, facilitando a marcação adversária. Outra coisa, RF precisa colocar Robinho para ficar treinando escanteio, não conseguiu transformar um em perigo para o adversário. Outro ponto que continuamos mal é no quesito cartões amarelos, principalmente de Alan Vieira, não consegue ir para o intervalo sem estar amarelado, é um temor deste que vos escreve durante o restante do jogo, toda vez que Alan  ia disputar uma bola, o medo da expulsão atormentava muito. A alguns meses, assistindo a derrota do Santa diante do Bota/PB vi um jogador que naquele jogo parecia estar entregando a rapadura, desligado, sem qualquer comprometimento com o time, fui um dos que pediam a cabeça dele em coro no Arruda, depois da chegada de RF deu a volta por cima e hoje uma das referências no meio campo tricolor juntamente com Jailson, sim é ele mesmo torcedor, Artur, sua ausência foi sentida ontem, o amigo Luiz lembrou bem isso, talvez a ausência de Artur tenha feito o Santa apenas se tornar burocrático ontem, buscando sempre Pipico, pois bola na área é quase gol do Santa. Outro destaque do time tem sido a defesa, mais segura a cada jogo, o gol de ontem não tira o mérito da defesa.

Como falei no início, ainda dá, acredite torcedor, assim como o amigo Rinaldo sempre propaga, o Santa sempre foi assim, começa com desconfiança, aos poucos vai se encontrando e consegue seu objetivo, quem não lembra de 2013? A afirmação no G4 se deu apenas nas rodadas finais.

Vai ser teste para cardíaco, mas digo que faltam 6 jogos para o acesso.

5 de julho de 2018

Bacalhau, herói dos mais pobres, símbolo do Santa Cruz!

Por Ivaldo Marciano, Prof. Adjunto História da África, UNEB DEDC II (Alagoinhas/Bahia).

Era o dia 16/09/1984, uma tarde de domingo. Estávamos em Garanhuns, mais precisamente no estádio Gigante do Agreste, em jogo válido pela 1ª rodada da 2ª fase do 2º turno do campeonato pernambucano daquele ano. Jogavam Santa Cruz e Sete de Setembro. Este, pela primeira vez na história, venceu o clube dos excluídos pelo placar de um a zero, com gol de Dezuíto. Eu estava na companhia de meu amado avô, “Seu Lima”, e Nilson, além de outros ilustres amigos, a exemplo de Fidel Moacir Sales. Estava também o inesquecível Geraldo Arruda, e o versátil José Henrique. Éramos todos de uma torcida organizada chamada Os Cobrões. O insucesso do Santa Cruz naquela ocasião, como sempre, nos fez ficar tristes e melancólicos. Mas, constava na programação daquela viagem a visita à residência de um garanhuense, que até aquele momento eu nunca havia ouvido falar. Seu nome: Jairo Mariano da Silva, ou simplesmente Bacalhau. Estava com quase dez anos de idade e havia sido iniciado nos jogos do Santa Cruz no já distante ano de 1978, pelas mãos de meu amado Ivanildo Lima. Eu fiquei intrigado com a figura daquele senhor que em sua casa possuía quadros, camisas, notícias de jornais sobre o Mais Querido coladas por diversas partes de sua casa. Seu rádio, as paredes, tudo aludia às cores do Santa Cruz. Neste tempo, conforme minhas memórias, Bacalhau ainda não possuía os dentes e cabelos com as cores mais belas do mundo. Mas já era aquele que me fazia ter orgulho e ao mesmo tempo vergonha. Orgulho, por ver sua bela residência e a forma como envergava as cores daquele clube que simboliza a espinha na garganta, e o calo no sapato das elites e dos poderosos. Vergonha, por não ter tantas coisas do Santa Cruz em minha casa. Naquele momento me achei pequeno, mas do que eu já era, diante da beleza daquele homem que dedicou uma vida inteira ao Santa Cruz. Quantas vezes não fez o trajeto entre Garanhuns ao Recife em sua bicicleta? Bacalhau, nas palavras de Jeanne Marie Gagnebin, nunca será lembrado por mim, uma vez que o ato de lembrar implica em esquecer, e isto, em relação à Bacalhau, constitui verdadeiro pecado. Esquecer o inesquecível é algo praticamente impossível para este missivista, bem como para aqueles que amam o Mais Querido. Como diria Dra. Isabel Guillen, os populares sabem bem quem são seus verdadeiros heróis e Bacalhau, assim como Pantera, me foi apresentado pelo meu avô, nesta fatídica data a que me referi. Das sociais do Arrudão, meu avô apontou para Pantera, aquele que em nome do Santa Cruz batia nos adversários que falassem mal do clube das três cores. Foi meu avô, Ivanildo Lima, que me proporcionou esta viagem para Garanhuns. E foi também ele que diante de Bacalhau mostrou o exemplo de ser humano que era para os amantes do Mais Querido. Bacalhau constituía o caminho para os que são ensinados a terem vergonha de serem quem são. O farol dos mais pobres, em sua maioria apaixonados pelo clube que os representa! Ao longo dos anos reencontrei Bacalhau muitas vezes. Por não ser adepto de retratos, evitava encetar o narcisismo consubstanciado nas “selfies” dos dias atuais. Hoje, contudo, lamento não ter registrado o momento em que o encontrei em Garanhuns, quando me encontrava fazendo o concurso para Professor da UPE em 2009. Bacalhau estava prestando serviços de limpeza. Sua bicicleta, devidamente paramentada com as três cores, me fez identificar aquele de quem tinha tanto orgulho. Parei o que estava fazendo, e imediatamente fui cumprimentá-lo. Sim, pois se é verdadeira a frase de que os populares reconhecem seus ícones, eu não poderia deixar de reverenciar um dos meus heróis. Talvez Bacalhau sequer soubesse dos significados de sua existência, pois, como diria Stuart Hall, as interpretações de algo são feitas por quem interpreta, e não por quem está sendo interpretado. Bacalhau talvez sequer soubesse que era por mim comparado a Emiliano Zapata, Sandino ou Farabundo Martí, mas assim eu me referia à ele, pois, se o Santa Cruz é identificado com tudo aquilo que é rejeitado, com a exclusão e a “sujeira” das favelas e a “imundície” dos mais pobres, Bacalhau representava o orgulho dos que não rejeitam sua identidade. Sim, Bacalhau significava “ser quem queríamos ser”, contrariando a máxima de que “em Pernambuco ou se é Cavalcanti ou se é cavalgado”. O Santa Cruz é talvez o maior símbolo de um povo pobre que insiste em viver e se fazer presente no Recife, que mesmo em meio às dificuldades (fome, desemprego, miséria) mostra os símbolos nas paredes, estabelecimentos comerciais, muros... O Santa Cruz empresta seu nome para mercadinhos, bares, farmácias... Vendedores de picolé, iguarias diversas... Eles são a verdadeira face de um povo marcado pela exclusão, e Bacalhau o seu símbolo maior. Ora, como lembrar de Bacalhau, se ele é inesquecível? Não há como! Se Sandino ainda se faz presente nas ruas de Manágua, Se Malunguinho é presente nas favelas do Recife, se Farabundo Martí ainda vive nos corações e mentes dos salvadorenhos, se Tupac Amaru é presença constante entre os mais pobres de Lima, no Peru, como admitir que Bacalhau será esquecido? Se é verdade que “lembrar” é ato análogo ao de “esquecer”, Bacalhau jamais será lembrado, pois nunca será esquecido. Certamente agora, eu tenho certeza, Bacalhau está sendo recebido em algum lugar pelos ilustres e imortais Geraldo Arruda, Valdomiro Silva, Guaberinha, Ivanildo da Buzina, dentre outros que a exigüidade do espaço não me permite listar. Bacalhau é eterno, é herói e símbolo de um povo pobre que luta e insiste em viver todos os dias, e que se constitui no maior patrimônio do Santa Cruz. Bacalhau sai hoje da vida e se torna História, e certamente terá lugar em muitas teses, dissertações, monografias e TCC´s que serão feitas mundo afora. Será o monumento dos despossuídos, símbolo maior de seu povo. Vida longa para Bacalhau, vida longa para o Santa Cruz, que nasceu e viverá para todo sempre. Para nós, 04/07 terá sempre outro sentido. Será o dia em que Bacalhau entrou para a História!